Carlos Renato de Almeida
Há vinte anos trabalho em uma empresa de capital aberto, as empresas de capital aberto são as que têm suas ações listadas em bolsa de valores, no caso das empresas brasileiras as ações são negociadas na Bovespa, que é a bolsa de mercado e valores de São Paulo.
Sempre tive certo temor de aplicações em bolsa de valores, pois mesmo tendo formação acadêmica em Ciências Contábeis, muitos professores conservadores, pintavam o investimento em ações como uma verdadeira roleta russa.
Para agravar um pouco mais a resistência ao mundo do investimento de renda variável (como são chamadas as ações, devido a sua característica de variação constante) trago comigo uma posição política mais a esquerda, por influência familiar , de uma irmã mais velha, que sempre foi simpatizante do PCB, fazendo parte por muitos anos da Associação de Professores Públicos de Minas Gerais - APPMG, do qual organizou e participou de várias passeatas nos anos de chumbo da ditadura. Tenho muito orgulho de minha irmã de saber que ela ajudou a construir um país melhor para os meus filhos.
Somado a estes fatos, o discurso do sindicato, do qual fui afiliado durante grande parte de meu tempo de empresa sempre acusavam os acionistas ou o governo como culpado de todos o problemas profissionais. No caso específico da minha empresa, o governo é o maior acionista da empresa, ou seja, o grande culpado era um só.
Este modo de pensar e ver o mundo me acompanhou durante um longo tempo. Até que em um belo dia, recebi um e-mail sobre uma feira de investimentos denominada Expo - Money, na qual a empresa em que trabalho iria participar e o melhor os ingressos eram gratuitos. Solicitei um par de ingressos e fomos a Expo - Money, eu e minha esposa.
Assisti a várias palestras, mas uma em especial mudou minha forma de ver o mundo dos investimentos. A palestra da economista e jornalista Rita Mundim, que abordou o assunto de renda variável, mais especificamente ações como investimento de longo prazo, não sei se foi o acaso ou algo assim, mas a empresa que ela utilizou como exemplo foi justamente a empresa em que trabalho. Ela citou alguns clientes e amigos, que acumularam seu primeiro milhão graças à empresa na qual trabalho.
Aquela noite de sexta-feira para sábado foi uma noite turbulenta e transformadora, pois a palestra levou-me a refletir sobre os meus conceitos sobre investimentos. Vários questionamentos em assombraram naquela noite. Seria mesmo um bom caminho financeiro a seguir? Os meus professores estavam equivocados? Minha ideologia era uma falácia?
Ao amanhecer fui para a sala de estudos e comecei a rever alguns fatos e momentos, que alteraram meu relacionamento com o mundo das finanças, o qual vinha praticando até então, cito alguns dos pontos de reflexão:
• Os professores na década de 90 estavam acostumados com inflação galopante e falta de seriedade nas políticas econômicas;
• O Socialismo já não era mais uma alternativa, pois a União Soviética e a China já haviam se entregado a força do capitalismo.
• O sindicato sempre discursava que quem ficava com os lucros da empresa eram os acionistas. Porque não se tornar um deles?
• O discurso da empresa era sempre o de remunerar bem os acionistas, pois o capital era deles e deveriam ter o retorno do seu capital. Porque não se tornar um deles?
• No estatuto da empresa é garantido uma remuneração mínima, mesmo que haja prejuízo.
• O plano Collor confiscou todos os valores depositados na poupança acima de NCz$50mil (Cruzado novo). Logo a poupança que é o investimento mais seguro dos riscos de mercado, entretanto não confiscou as ações.
Diante de todas estas ponderações na segunda-feira procurei uma corretora de valores e adquiri todo o meu 13º salário em ações da empresa em que trabalho. Agora além de meu salário mensal, ainda recebo dividendos, juros sobre o capital próprio e a valorização de mercado das ações.
Por último, mas não menos importante, no mínimo uma vez ao ano participo da Assembleia Geral Ordinária – AGO, da qual participam também os diretores e acionistas, conforme previsto na lei 6.404/76 em seu Art. 132.” Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para: I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras; II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos; III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso; IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital.”
Espero que esta história possam leva-lós a refletir sobre o mercado de ações e sobre o investimento em suas próprias empresas, pois ninguém melhor do que o empregado da empresa para saber se a empresa tem futuro promissor ou não.
Saúde e sucesso a todos que me leem.
Carlos Renato é Contador
http://twitter.com/Casrenato
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