Não era para ser assim, este
final de semana foi completamente fora de minha rotina física, espiritual e
emocional. Vieram turbilhões nos vários setores da vida, até a sexta feira estava
tudo dentro de uma relativa normalidade de meus dias cotidianos e os
sentimentos estavam sob o mais distinto controle da santa batalha de cada dia.
Uma noite de sexta-feira com
gosto de vitoria, pela alegria da promoção de um colega de empresa, que vinha
na guerrilha dos diversos “front’s”
empresariais, assim como eu, há mais de 25 anos na empresa. Comemoração tímida com
alguns colegas em um local modesto, mas usualmente utilizado para as diversas
festividades do mundo corporativo. E assim se foi a sexta noite.
Entretanto, no sábado as noticias
impactantes se iniciaram. Logo pela manha via WhatsApp já recebo a primeira informação do falecimento
do amigo Zezé, tomo logo meu primeiro choque do dia. Ainda meio atordoado da noticia
e navegando pelas mídias digitais, pelo facebook fico sabendo do falecimento de
Dona Lourdes, grande amiga de minha mãe e toda a nossa família.
Com esta noticia vem a primeira
grande preocupação, como falar com minha mãe sobre a morte de uma amiga com
mais de 60 anos de amizade. Mas esta preocupação foi extremamente bem conduzida
por minha irmã, que deu a informação sem causar grandes impactos.
O Zezé é um ser humano muito
dedicado a Deus e a família, sempre lutou com muita dificuldade para criar os
filhos, mas nunca perdeu a fé em Deus. Pastor de uma igreja humilde em um
bairro de periferia. Acredito que foi o primeiro pastor que conheci, ainda nos
anos 80, sempre defendeu sua fé e seu ponto de vista. Com o tom de voz elevado
e sorriso farto, sempre chamou minha atenção pelo seu jeito. Sempre que o
encontrava em festas, tinha um caso interessante para contar e mais do que isso
um abraço, que envolvia-me por completo, por me conhecer desde de criança, eu
acho que para ele até hoje sou o caçula da Dona Nega, apelido carinhoso de
minha mãe. Velório repleto de amigos e familiares, emoções a flor da pele, de
certa forma isto me conforta em saber que a família terá o conforto de muitos
amigos.
Já Dona Lourdes era uma pessoa
que sempre esteve e estará no subconsciente de minha família. Todas as
historias de minha mãe e meu pai passam pela comadre (D. Lourdes) e o compadre (
seu Serape). Penso eu, que Dona Lourdes foi o terceiro ser humano que conheci
em minha existência neste plano espiritual. Minha mãe sempre fala que ela é a
minha agasalhadora, pois minha primeira vestimenta foi presenteada por ela. Nascido
de sete meses e em condições financeiras limitadas, meus pais não me esperavam
no mês de janeiro e sim lá para os meados de março ou abril. Quanto a terceira
pessoa a conhecer, se deve ao fato dela ter chegado ao hospital antes mesmo de meu
pai, pois a afinidade entre ela e minha mãe é tão grande, que a amizade abençoada
por Deus, os sentimentos são ligados muito além dos laços terrenos.
Mas a vida é como um gráfico de
bolsas de valores e não tenho muito como explicar, mas na noite de sábado tive
a alegria e a felicidade de participar de uma festa de 15 anos. Minha sobrinha
Marina estava completando uma década e meia de aventuras pelas trilhas da vida,
pequenina e muito meiga, esta mocinha começa a desvendar as veredas da vida.
Sempre com os olhos bem abertos, negros e atentos, lembrando duas grandes
jabuticabas. Essa menininha, que quando pequena me chamava de ”Enato” sempre comia o R do Renato. Festa animada com tema
mexicano, com direito a taco, guaca mole e outros. Também, com um discurso
engraçado e animado de um pai emocionado, que fez questão de fazer uma
retrospectiva da vida do casal e da família, sendo Marina a filha mais velha,
que viveu todas as alegrias do casamento de seus pais, principalmente a alegria
de ver seus irmãos mais novos nascerem.
O gráfico da vida é inesperado é
uma roda gigante, as vezes em cima, as vezes em baixo. E eu ser humano a
procura da evolução e do equilíbrio tentando me equilibrar nesta corda bamba.
Meus sentimentos estão bagunçados e expectativas abaladas, mas sei que isto é
uma questão de tempo para tornar ao centro e aqui tento me reencontrar comigo
mesmo, fone no ouvido e dedos no teclado.
Somente uma certeza fica em mim,
agradeço a Deus pela oportunidade de conviver com pessoas fabulosas como o
Zezé, D. Lourdes e Marina. Cronologias diversas 60, 80 e 15 anos respectivamente,
mas uma certeza única, fazem parte de minha vida e de mim e ajudam a construir
o ser humano que sou e que me transformarei no amanhã e depois.